top of page

Bairro da Fábrica da Areosa encolhe para dar lugar a residência universitária

O Bairro da Fábrica da Areosa e as vidas das suas gentes sofreram grandes alterações com a construção da maior residência de estudantes do país na zona do Bairro da Areosa, junto ao Polo Universitário da Asprela.

Fotografia: Diogo Metelo


Foram demolidas 24 casas e nasceu um grande edifício de 10 pisos, entre meados de 2019 e setembro de 2020, no Bairro da Fábrica da Areosa. Trata-se da residência universitária do polo da Asprela, do Grupo U.hub Investments, que pretende dar resposta à falta de oferta de alojamento para estudantes. Tem 456 quartos e espaços de convívio, lazer, trabalho ou estudo. Os estudantes têm, ainda, acesso a serviços de lavandaria, arrumos e limpeza.


Quem passa pela estrada da circunvalação entre a rotunda da Areosa e o Hospital de São João, pode ver uma longa fachada azul no sopé do empreendimento universitário. Telhados em triângulo. Um andar, seis portas. Ao centro, duas casas com 2 pisos. Passou a ser a linha da frente do Bairro da Fábrica da Areosa, antes mais escondido entre um grande arvoredo. A estrutura repete-se no lado oposto do quarteirão enquanto que, nos outros 2 lados, no mesmo estilo, se juntam os quintais das casas dessas fachadas.

Fotografia: Diogo Metelo


Glória trabalhou 10 anos na Fábrica de Tecidos da Areosa, numa arte pela qual tinha gosto e da qual guarda uma grande saudade. Tinha contrato vitalício no número 32, foi obrigada a mudar para o 501 com novo contrato. A sua casa foi a segunda a ser demolida e não tinha alternativa senão ocupar o número 501 para permanecer no bairro onde já vivia há 43 anos. Restam 4 anos para ter de ir embora. Paga cerca de 125 euros por mês. São já várias as casas alugadas por aqui a 600 euros. Se as 24 casas que sobram não forem destruídas teme ser forçada a abandonar a sua residência para que o senhorio possa alugar a estudantes.

 

Em 1920, o empresário Manuel Pinto de Azevedo, comprou, juntamente com Manuel Alves Soares, a Fábrica de Fiação de Tecidos da Areosa, fundada em 1907. Os meios de produção de tecidos, carrinhos de linha de algodão e afins eram protegidos por um corpo de bombeiros privados.

Fotografia: Blogue "Restos de Colecção"


Para garantir mão de obra barata e sempre disponível, Manuel Pinto de Azevedo, mais tarde dono da EFANOR, Empresa Fabril do Norte, mandou construir habitações para os trabalhadores da Areosa a menos de um quilómetro da Fábrica. Além das casas, os funcionários dispunham de uma creche e escola primária, onde é agora a sede do Núcleo Regional Do Norte da Liga Portuguesa contra o Cancro.

document
.pdf
Fazer download de PDF • 79KB

Documento: Arquivo Municipal do Porto - 1940: "Vista aérea da zona rural de São Mamede e Paranhos, desde a linha de Leixões (Norte), ao Bairro Social da Fábrica da Areosa, voltado à Estrada da Circunvalação"

 

Dada a localização do Bairro da Areosa, com entrada pela Estrada da Circunvalação, junto à saída da A3, a construção do Instituto Politécnico do Porto, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e dos institutos de engenharia INEGI e INESC-TEC, passou a implicar o movimento de várias pessoas a pé ou de carro, a grande velocidade.

A cidade continua a expandir-se em direção ao bairro, antigamente isolado por campos agrícolas. Os 14 mil metros quadrados ocupados pela residência universitária destruíram os campos que ainda resistiam. Por outro lado, a rua foi repavimentada, são colocadas novas árvores ao redor da urbanização e o saneamento torna-se uma realidade. O sentimento é misto.

Fotografias: Google Maps - Ainda mantem as casas que já foram demolidas


Maria, nome fictício, vive aqui desde que nasceu. Os pais e irmãos trabalharam na fábrica têxtil. Já, Rosa, nome fictício, chegou com 30 anos de idade à Areosa, ainda a tempo de trabalhar uma década no setor da indústria. As duas moradoras, que acompanham as obras de instalação do saneamento, recordam as brincadeiras num largo perto das casas e lembram, também, as obras do Hospital de S. João, inaugurado a 24 de Junho de 1959, pelo então chefe de Estado, o Almirante Américo Tomás. Esta empreitada já tinha trazido mudanças significativas à zona.

Em 2004, lutaram para que o bairro fosse considerado imóvel de interesse patrimonial, sem sucesso. O certo é que o complexo para alojamento estudantil, um investimento privado de 15 milhões euros, avançou e perdeu-se património.

A Câmara Municipal do Porto remete declarações sobre o novo Plano Diretor Municipal para março de 2021, após aprovação do documento. O PDM está na fase de ponderação das participações recebidas durante a fase de discussão pública. mas o desejo de quem aqui vive é claro: "Deixem-nos ficar aqui. Já nos adiantaram que a gente na altura já estava a ver que ia desta para melhor. Mas não, ainda ultrapassámos isso tudo. Vamos lá ver".

Fotografia: Diogo Metelo

bottom of page