Dos que não querem saber aos que dizem que querem, na hora de ajudar os abrigos que tantos esforços fazem para cuidar dos animais, poucos são os que realmente se interessam. Alguns, talvez não tenham noção do que podem fazer (a estes, sugiro que continuem a ler); outros têm (leiam também).
Quantos portugueses já se deslocaram a um canil ou associação de resgate animal? Todos ouvimos falar do assunto, mas só ganhamos consciência das suas necessidades quando vemos, com os próprios olhos, o funcionamento destes abrigos.
Centenas de cães, em jaulas, com olhinhos chorões, ladram e imploram por uma família que os ame, que os deixe brincar, dar umas corridas e partilhar afetos. Claro que lhes são asseguradas as condições mínimas de higiene, conforto e saúde – com muita ginástica financeira porque os apoios são poucos –, mas estes centros não lhes conseguem proporcionar a vida que merecem.
Os gatos são mais independentes, poucos fazem aquele olhar carente e nem se importam assim tanto de estar lá no gatil, ao sol (nos que têm janelas), a dormir o dia todo. Mas o sol sabe muito melhor no calor de uma família, com umas festinhas na cabeça e um ombro onde se possam encostar – só pedem uma mantinha, comida e areia, nem é preciso levá-los a passear.
Cabe à sociedade entender que, se todos ajudarmos um bocadinho, não custa nada a ninguém. Imaginem que todas as famílias doavam, por mês, um saco de ração de quatro quilos, da marca mais barata que encontrassem, ao canil mais próximo de casa. Poucos têm consciência da ajuda que seria. Uns cinco ou seis euros por mês fariam toda a diferença, aliviando o trabalho dos funcionários que têm de pedir ajuda constantemente. Obviamente, isto foi só uma hipótese utópica. Se cada família doasse ainda menos, de dois em dois meses, já seria um cenário bem mais animador.
Outro tópico importante para o qual tenho de alertar a população: as recolhas de alimentos em hipermercados. De xis em xis tempo, dão-se estas iniciativas da animalife, uma associação portuguesa sem fins lucrativos, responsável por ajudar associações de abrigo animal. À porta dos hipermercados ficam plantados dois ou três voluntários, durante horas a fio, enquanto ouvem ordinarices de todo o tipo por pedirem comida para animais que não têm dono.
Como é que sei disso? “Olá, estou a fazer a recolha de alimentos do banco solidário animal, se puder contribuir com qualquer coisa…”. Entretanto a pessoa já virou a cara e continuou a caminhar. Sim, sou voluntária nestas iniciativas, com todo o gosto, porque nenhum animal teve culpa de ir parar a um abrigo. Ao contrário das pessoas, eles não têm a capacidade de fazer escolhas que lhes determinem o futuro. As respostas que ouço? “Ó menina, também tenho lá um”; “Arranje-me mas é aí para o meu gato”.
Compreendo que muita gente não tenha, de facto, possibilidades financeiras para contribuir, o que não justifica a má educação. Muitos dos que entram nem ouvem o que tenho a dizer, viram a cara e fingem que não veem; fico a falar sozinha. Respeito, é o que peço a estes hipócritas. Não ajudam nem respeitam quem tenta ajudar.
Os portugueses gostam muito de animais, mas longe, lá no cantinho deles e à responsabilidade dos outros. Uma lata de comida para gato, por exemplo, custa cerca de 50 cêntimos – nem isso –, custará assim tanto doar uma de vez em quando?
Para deixarem essa hipocrisia, têm de compreender, e para compreenderem têm de ver por vocês mesmos. Deixo aqui o apelo: visitem uma associação ou canil, levem qualquer coisinha, se puderem, e percebam que aqueles animais precisam de comida – e de muito mais do que isso. Não virem a cara aos voluntários à entrada do hipermercado, pensem duas vezes antes de responder, sejam educados e, se tiverem possibilidade, doem qualquer coisinha.
E o maior apelo de todos: não abandonem os vossos amigos de quatro patas e, se não têm um, tomem a melhor decisão da vossa vida e adotem!
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