Se o povo paga o Novo Banco, a TAP e outros negócios ruinosos, os impostos devem servir para que polícias e militares desempenhem o seu trabalho como deve ser e para ter um ministro ativo, assertivo e eficaz.
Há algumas premissas importantes a ter em conta: o momento que o mundo enfrenta é difícil, as altas figuras dos diversos países têm de decidir e agir a um ritmo e precisão que nunca imaginaram e a vacinação é crucial na luta contra o coronavírus, logo, tem de chegar a todos que a queiram. Mais ainda, o escrutínio das ações dos governantes é imprescindível e está alinhado com a exigência por parte das populações de serem bem servidas.
Não interessa criar polémicas onde não existem. Não é importante perder tempo a discutir quem deve ser o rosto da vacinação em Portugal, onde deve estar a ministra da saúde no momento histórico ou quem deve ser vacinado primeiro: maiores de 80 anos saudáveis ou agentes de segurança, como militares. A propósito do último ponto, o que está em causa é a vacinação de militares na linha da frente no combate à Covid-19, não todos, e sendo um dos critérios prioritários do plano de vacinação, e bem, “profissionais de saúde envolvidos em cuidados de saúde e de segurança“, então o problema só está na cabeça de Miguel Sousa Tavares. Quem tem de lidar com o vírus mais depressa é um profissional do que alguém com mais de 80 anos que se deve proteger em casa.
O que importa é a chegada das vacinas a Portugal sem atrasos, que cheguem a horas ao local de administração e que a segunda dose esteja assegurada para todos no tempo previsto, para garantir a imunização da população o mais rapidamente possível. Que se saiba, para já, não foi desperdiçada nenhuma dose da vacina em solo luso, tudo correu na perfeição, só que… o português consegue sempre arranjar confusão.
Tememos todos que Portugal não tivesse um plano de vacinação. Tememos que o plano desse errado logo no primeiro dia, tememos sempre. Se não houver nada de explosivo, esgravatamos por algo picuinhas. Desta vez, também conseguimos a tal polémica desejada. Pode ser problemático e deve ser resolvido, mas é sobretudo… ridículo.
Trata-se do conflito que parecia uma discussão do género “a minha arma é maior que a tua”, entre agentes da PSP e militares da GNR, no dia 28 de dezembro. Inicialmente, a PSP impediu uma carrinha carregada com doses da vacina, escoltada pela GNR, de sair de Évora e continuar a distribuição na região sul do país. É ridículo e coloca em causa a eficácia do processo de vacinação. O procedimento estava definido desde dia 22.
De acordo com a SIC, o ponto 3 do documento que regulamenta a operação de transporte de vacinas indica que a GNR tem de estar presente em todo o processo, “a GNR assegura o desembaçamento de transito nos itinerários que compreendam passagens por áreas de responsabilidade (AR) de ambas” as Forças de Segurança (FS). Outro ponto especifica a colaboração das duas entidades, “a GNR assegura a proteção dos bens em deslocamento na sua área de responsabilidade. A partir do ponto de transição da AR, a escolta-acompanhamento de segurança é da responsabilidade da PSP”.
O incidente durou meia hora. No papel, a PSP assegura a fluidez da operação, “sendo a troca de elementos realizada em movimento”. Num processo de elevada importância e exigente a nível das condições de armazenamento da vacina (70 graus negativos) e do tempo de vida útil de cada frasco após abertura da caixa (5 dias) e administração até 6 horas após a abertura do frasco, este impasse devia ser cabalmente resolvido e estabelecida uma comunicação cristalina entre as FS.
Contudo, como a RTP adianta, outros percalços semelhantes têm-se repetido em localidades como Aveiras, Setúbal e Caldas da Rainha. Em Viana do Castelo, a GNR alterou o percurso sem dar conhecimento à PSP e uma equipa da polícia ficou parada 40 minutos à espera para iniciar a escolta às vacinas. Belo jogo de poder, mas há alguém que deve apitar, assinalar a falta e dar os respetivos cartões amarelos.
Ministros que ardem em lume brando são cada vez menos raros neste país. E a temperatura na panela do Ministro da Administração Interna sobe cada vez mais. Cabe ao senhor Ministro, fazer um par de telefonemas, esclarecer as regras de jurisdição e criar pontes de comunicação entre FS. No fundo, arrumar a casa. Porém, o custo das chamadas deve ser muito elevado para Eduardo Cabrita. Sem querer causar interferências, sugiro então ao Governo ou a quem de direito que lhe aumente a folha salarial. Se o povo paga o Novo Banco, a TAP e outros negócios ruinosos, os impostos devem servir para que polícias e militares desempenhem o seu trabalho como deve ser e para ter um ministro ativo, assertivo e eficaz. Mais fácil é substituir o ministro, que parece estar sob efeito de anestesia.
É este silêncio e falta de ação do atual Ministro da Administração Interna que não se compreende. Se calhar temos de esperar 9 meses para Eduardo Cabrita presentear os portugueses com outro sermão de auto congratulação por ter pedido um inquérito à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) sobre esta disputa de competências. Aguardemos conclusões, mas quem tem o botão mágico on/off devia ser o Ministro da Administração Interna e acabar com as dúvidas.
Entretanto, fica o aviso geral. É preciso manter a vigilância porque há de vir aí a grande polémica relacionada com a compra das vacinas, o fantasma da corrupção e favores - habitué das elites e da política portuguesa -, condições de armazenamento ou transporte irregulares, furto nas barbas de agentes de segurança… Ou mais uma futilidade à portuguesa.
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