top of page
Foto do escritorDiogo Metelo

[Opinião] Anestesia em vez de vacina na Administração Interna

Se o povo paga o Novo Banco, a TAP e outros negócios ruinosos, os impostos devem servir para que polícias e militares de­sempenhem o seu trabalho como deve ser e para ter um ministro ativo, assertivo e efi­caz.


Há algumas premis­sas importantes a ter em conta: o mo­mento que o mundo enfrenta é difícil, as altas figuras dos diversos países têm de decidir e agir a um ritmo e precisão que nunca imaginaram e a va­cinação é crucial na luta con­tra o coronavírus, logo, tem de chegar a todos que a queiram. Mais ainda, o escrutínio das ações dos governantes é im­prescindível e está alinhado com a exigência por parte das populações de serem bem ser­vidas.

 

Não interessa criar polémi­cas onde não existem. Não é importante perder tempo a discutir quem deve ser o ros­to da vacinação em Portugal, onde deve estar a ministra da saúde no momento histórico ou quem deve ser vacinado primeiro: maiores de 80 anos saudáveis ou agentes de segu­rança, como militares. A pro­pósito do último ponto, o que está em causa é a vacinação de militares na linha da frente no combate à Covid-19, não to­dos, e sendo um dos critérios prioritários do plano de vaci­nação, e bem, “profissionais de saúde envolvidos em cui­dados de saúde e de seguran­ça“, então o problema só está na cabeça de Miguel Sousa Ta­vares. Quem tem de lidar com o vírus mais depressa é um profissional do que alguém com mais de 80 anos que se deve proteger em casa.


O que importa é a chegada das vacinas a Portugal sem atrasos, que cheguem a horas ao local de administração e que a segunda dose esteja as­segurada para todos no tem­po previsto, para garantir a imunização da população o mais rapidamente possível. Que se saiba, para já, não foi desperdiçada nenhuma dose da vacina em solo luso, tudo correu na perfeição, só que… o português consegue sempre arranjar confusão.


Tememos todos que Por­tugal não tivesse um plano de vacinação. Tememos que o plano desse errado logo no primeiro dia, tememos sem­pre. Se não houver nada de ex­plosivo, esgravatamos por algo picuinhas. Desta vez, também conseguimos a tal polémica desejada. Pode ser problemá­tico e deve ser resolvido, mas é sobretudo… ridículo.


Trata-se do conflito que pa­recia uma discussão do géne­ro “a minha arma é maior que a tua”, entre agentes da PSP e militares da GNR, no dia 28 de dezembro. Inicialmente, a PSP impediu uma carrinha carregada com doses da va­cina, escoltada pela GNR, de sair de Évora e continuar a distribuição na região sul do país. É ridículo e coloca em causa a eficácia do processo de vacinação. O procedimento estava definido desde dia 22.


De acordo com a SIC, o ponto 3 do docu­mento que regulamenta a ope­ração de transporte de vacinas indica que a GNR tem de estar presente em todo o processo, “a GNR assegura o desemba­çamento de transito nos iti­nerários que compreendam passagens por áreas de res­ponsabilidade (AR) de ambas” as Forças de Segurança (FS). Outro ponto especifica a co­laboração das duas entidades, “a GNR assegura a proteção dos bens em deslocamento na sua área de responsabilidade. A partir do ponto de transição da AR, a escolta-acompanha­mento de segurança é da res­ponsabilidade da PSP”.


O incidente durou meia hora. No papel, a PSP assegura a fluidez da operação, “sendo a troca de elementos realizada em movimento”. Num proces­so de elevada importância e exigente a nível das condições de armazenamento da vacina (70 graus negativos) e do tem­po de vida útil de cada frasco após abertura da caixa (5 dias) e administração até 6 horas após a abertura do frasco, este impasse devia ser cabalmente resolvido e estabelecida uma comunicação cristalina entre as FS.


Contudo, como a RTP adianta, outros percalços se­melhantes têm-se repetido em localidades como Aveiras, Setúbal e Caldas da Rainha. Em Viana do Castelo, a GNR alterou o percurso sem dar co­nhecimento à PSP e uma equi­pa da polícia ficou parada 40 minutos à espera para iniciar a escolta às vacinas. Belo jogo de poder, mas há alguém que deve apitar, assinalar a falta e dar os respetivos cartões ama­relos.


Ministros que ardem em lume brando são cada vez me­nos raros neste país. E a tem­peratura na panela do Minis­tro da Administração Interna sobe cada vez mais. Cabe ao senhor Ministro, fazer um par de telefonemas, esclarecer as regras de jurisdição e criar pontes de comunicação entre FS. No fundo, arrumar a casa. Porém, o custo das chamadas deve ser muito elevado para Eduardo Cabrita. Sem querer causar interferências, sugiro então ao Governo ou a quem de direito que lhe aumen­te a folha salarial. Se o povo paga o Novo Banco, a TAP e outros negócios ruinosos, os impostos devem servir para que polícias e militares de­sempenhem o seu trabalho como deve ser e para ter um ministro ativo, assertivo e efi­caz. Mais fácil é substituir o ministro, que parece estar sob efeito de anestesia.


É este silêncio e falta de ação do atual Ministro da Admi­nistração Interna que não se compreende. Se calhar temos de esperar 9 meses para Edu­ardo Cabrita presentear os portugueses com outro ser­mão de auto congratulação por ter pedido um inquérito à Inspeção-Geral da Adminis­tração Interna (IGAI) sobre esta disputa de competências. Aguardemos conclusões, mas quem tem o botão mágico on/off devia ser o Ministro da Ad­ministração Interna e acabar com as dúvidas.


Entretanto, fica o aviso geral. É preciso manter a vigilância porque há de vir aí a grande polémica relacionada com a compra das vacinas, o fan­tasma da corrupção e favores - habitué das elites e da políti­ca portuguesa -, condições de armazenamento ou transporte irregulares, furto nas barbas de agentes de segurança… Ou mais uma futilidade à portu­guesa.

Comments


bottom of page