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Família Baytar: uma história feliz

Quando a guerra na Síria atingiu Alepo, os membros da família Baytar foram seis dos mais de 5 milhões de refugiados sírios que se viram obrigados a deixar as suas vidas para trás. Em 2014, Mahmood e Waffa, juntamente com os filhos Ibrahim, Mohammed, Bilal e Maran, fugiram para a Turquia. Para trás, deixaram uma filha já casada e um neto. Além de alguns pertences, carregavam o sonho de viver na Europa.



Fotografia Daniela Oliveira


Os constantes bombardeamentos e a insegurança que se vivia na Síria não deixaram outra opção aos Baytar. Com o país destruído e sem futuro, fizeram as malas e fugiram da terra natal em direção a Çaliş, na Turquia. No caminho, temeram pela vida e esconderam-se da polícia. Chegados à Turquia, fizeram uma viagem de carro durante vinte horas até Istambul. “Toda a viagem foi um grande tormento. Tivemos muito medo. Estávamos sempre a esconder-nos da polícia”, recorda o filho Mohammed.

Apesar de, na Turquia, não terem vivido num campo de refugiados, a vida da família não foi fácil. “Conseguimos arranjar uma casa, mas era tudo muito caro”, conta o pai, Mahmood. Os filhos mais velhos Mohammed, Ibrahim e Bilal, apesar de terem idade para ir à escola, arranjaram um emprego numa fábrica de confeções a fim de conseguirem sustentar a família. A família vivia com 60 euros por semana. A única rapariga, Maran, ia à escola. Ainda na Turquia, nasceu o pequeno Yazir. Mas, a vida sorriu-lhes.

Um pároco de Gondomar soube da existência de famílias que estavam na Turquia e que se tinham inscrito no Programa de Reinstalação do ACNUR. Sensibilizado com a situação e com a necessidade de estas pessoas encontrarem um porto seguro, o Padre Fernando Rosas, da paróquia de São Pedro da Cova, mostrou-se imediatamente disponível para acolher uma família. Depois de um processo de seleção e aprovação de condições no que respeita à paróquia, a família Baytar viu o seu destino mudar.

Em agosto de 2020, os Baytar tinham à sua espera no aeroporto de Lisboa o Padre Rosas. Em São Pedro da Cova, encontraram uma comunidade aberta e disponível para os receber. “Antes deles chegarem, houve muita ajuda na preparação da chegada da família. A comunidade paroquial tem tido uma atitude acolhedora”, diz o Padre.


A chegada ainda é recente e há obstáculos a transpor até que seja possível a integração plena. O grande entrave é a língua portuguesa. A família não domina o português, o que dificulta a comunicação com o Padre e com a comunidade. O Padre conta que a comunicação com eles se faz através de uma aplicação de tradução automática e que isso causa alguns constrangimentos. “Eu ainda não sei toda a história deles. À medida que eles vão aprendendo o português, vou sabendo mais. Mas, para já, é só com o Google Tradutor e através de gestos que interagimos”.


A família tem aulas diárias de português, mas a fluência ainda é pouca, o que dificulta a integração na comunidade. Além disso, não dominar do português é um obstáculo à integração profissional. “Os rapazes têm mesmo muita vontade de trabalhar. Eles fazem qualquer coisa. Mas já lhes foram recusados muitos trabalhos por não saberem português”.


O Padre Rosas não esconde a preocupação face ao período atual de pandemia, que representa mais uma dificuldade para a integração profissional. “A situação atual é complicada em termos de trabalho, que é muito escasso. Eles fazem qualquer coisa. Vai começar tudo a fechar, é a coisa que mais me preocupa”.

O pároco explica que os rapazes mais velhos - Ibrahim, 22 anos, Mohammed, 20 anos e Bilal, 18 anos - têm experiência na área da costura e criam algumas peças que vendem à comunidade, de forma a conseguirem obter algum rendimento. “Reparo muitas vezes que, no final das missas, muita gente lhes compra as peças que criam. Mesmo quem não compra, oferece algum dinheiro. A paróquia tem recebido muito bem a família”.

Apesar de terem fugido da guerra, o Padre Rosas não sente que a família esteja traumatizada. Acredita que estejam abalados por terem de fugir da Síria e se encontrarem num lugar diferente, com uma cultura diferente. “Eles não têm grandes traumas de guerra. Talvez estejam traumatizados por estarem fora do seu ambiente. Talvez precisem de falar sobre isso. Mas não penso que estejam traumatizados por causa da guerra”.

Embora os Baytar tenham passado por situações muito complicadas e ainda se encontrem em processo de integração, o Padre Rosas reconhece boa disposição e sinais de resiliência da parte da família. “Eles são espantosamente bem-humorados. Eu admiro muito isso. No meio de tudo isto, eles estão dependentes de mim, da paróquia e do estado português. Mas têm muito sentido de humor. Eles têm espírito de lutadores. Este bom humor e a capacidade de superação, são sinais de uma certa valentia e resiliência”.





Esta é a quarta parte da Grande Reportagem d'O Impresso sobre o acolhimento e integração de refugiados em Portugal. Ler a última parte.

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